sexta-feira, 9 de julho de 2010

BURUNTUMA (PEL CAÇ NAT 65) - Parte 2 - Actividade Operacional de 27 Fevereiro 1970 a 23 Abril 1970

Continuamos com o relato da actividade do Pel Caç Nat 65, com o auxílio da História da Unidade do Bart 2857 e com a agradável prestação através do ex-camarada Fur Mil LUÍS MANUEL NUNES GUERREIRO, pertencente ao Pel Caç Nat 65, que connosco conviveu de Janeiro de 1970 a Agosto de 1970.
O período acima coincide quase em todo com a permanência do Pel Caç Nat 65 no Sector e Comando do Bart 2857.
Após a data de 27 de Junho de 1970, desde que o Sector de Bajocunda, Pirada passou para o Comando do COP 1, deixamos de ter acesso à actividade do Pel Caç Nat 65 e deste modo relatamos a informação prestada pelo Luis Guerreiro.
Relembramos que o Luis Manuel Nunes Guerreiro, ex-Fur Mil pertenceu ao 4.º Grupo de Combate da Companhia de Artilharia 2410 e mais tarde do Pel Caç Nat 65, Ganturé, 68/70, e desde 1971 residente em Montreal , no Canadá.


ACTIVIDADE OPERACIONAL
EM BURUNTUMA
27 Fevereiro 1970 a 23 Abril 1970 
Buruntuma, capela e monumentos das companhias

Em 27 de Fevereiro de 1970, em face do ataque feiro a BURUNTUMA em 24 de Fevereiro de 1970, por elementos do IN instalados junto à fronteira com a REPÚBLICA DA GUINÉ-CONACRY, é decidida uma retaliação sobre KANDIKA (República da Guiné-Conacry).
Para isso foram deslocados para BURUNTUMA dois morteiros 81mm de Nova Lamego, um de BAJOCUNDA, um de PIRADA, dois de PICHE, dois de PONTE CAIUM e um de CAMAJABÁ.
O 8.º Pel Art.ª 10,5cm desloca-se de CANQUELIFÁ para BURUNTUMA e o 12.º Pel Art.º 11,4 cm, de PICHE para CAMAJABÁ.
De PICHE seguiram ainda, em reforço o Pel Caç Nat 65 e um Grupo de Combate da Ccaç 2679. O Comandante e o 2.º Comandante do Bart deslocam-se, também, para BURUNTUMA, onde acompanham o desenrolar da acção.
Pelas 15H00 o 12.º Pel Art.ª iniciou a regulação de tiro, seguindo-se o do 3.º Pel Art.ª 8,8cm (de BURUNTUMA) e a do 8.º Pel Art.ª 10,5cm (em Camajabá).
O IN reagiu imediatamente com fogo de Morteiro 82mm, LGF e armas ligeiras, sobre as posições de Morteiro e da Artilharia Ligeira.
A Artilharia que já fizera uma regulação uma regulação sumária passou imediatamente à eficácia. Os Morteiros, cujo fogo não foi possível regular de helicóptero (conforme estava previsto), foram regulados da própria posição, pois que desta se via o telhado do quartel, que era um dos objectivos, pelo que se passou à eficácia.
A esta respondeu o IN intensificando o seu fogo sobre a Artilharia Ligeira.
Apesar de batidos pelo fogo, o 3.º Pel Art.ª e o 8.º Pel Art.ª continuaram a fazer tiro, assim como as guarnições dos Morteiros, estes com uma ou outra excepção.
Pelas 17H30 quando o 8.º Pel Art.ª, se preparava para recolher ao aquartelamento, terminado o seu fogo, caiu uma granada IN, junto da GMC a que se atrelava um obus, causando um morto e cinco feridos.
Às 19H00 o 8.º Pel Art.ª seguiu para PICHE, e o 3.º Perl Art.ª, recolheu à sua posição normal, em BURUNTUMA.
O fogo IN continuou intenso, e a partir de certa altura incluindo o de Morteiro 120 mm, respondendo as NT com fogo de Artilharia 8,8 cm, Morteiro 81mm e armas ligeiras e pesadas.
As NT continuaram a fazer fogo de resposta, durante a noite, mas com menor intensidade, por uma economia de munições, pois que por uma estimativa sumária das existências se verificou que essa economia se impunha.


Segundo informações posteriores, em consequência da retaliação efectuada, o quartel de KANDIKA ficou destruído, incluindo o paiol, tendo-se registado 8 mortos entre os militares (incluindo o Tenente Comandante de KANDIKA) e três entre os civis, além de muitos feridos civis e militares. Segundo as mesmas informações teria ficado destruído o Posto de Alfândega, e morrido o respectivo Chefe.


Em BURUNTUMA, em consequência do fogo IN ficaram destruídas 14 moranças. A população atemorizada durante e depois da acção, tentou abandonar BURUNTUMA, mas tendo-lhe sido explicado o motivo da acção das NT, acabaram por a aceitar.

Tabancas queimadas em Buruntuma
Tabancas queimadas em Buruntuma

Entre as NT, no decorrer da acção, registaram-se as seguintes baixas e feridos em combate:

                 CCAÇ 2401
                                     Jerónimo Pereira Cardoso – Fur Mil, ferido (a)
                                     Mário Almeida Pires           – 1.º Cabo, ferido (a)
                                     Cândido I.T. Gomes            – Soldado, ferido (a)
                                     Abel L. Abrantes                 – Soldado, ferido (a)
                                     Oscar de O. Duarte             – Soldado, ferido (a)
                                     Américo Fonseca da Silva  – Soldado, ferido (a)

                 8.º PEL ART.º 10,5 CM/BAC 1
                                     João Jassi                             – Soldado, morto
                                     Guesague                             – Soldado, ferido (a)
                                     Daniel L. Sambo                  – Soldado, ferido (a)
                                     António Alfanaia                 – Soldado, ferido (a)
                                     Saido Baldé                          – Soldado, ferido (a)
                                     Duquelam Metalé               – Soldado, ferido (a)


(a) Evacuados em HELI para o HM 241 em 28 de Fevereiro de 1970.


                 Distinguiram-se durante a acção:
                                     José A. Azevedo                   – Fur Mil, CCaç 2679
                                     Alpoim Resende                   – Soldado, Pel Mort 2105
                                     Domingos L. Simões            – Soldado, Pel Mort 2105
                                     David M. Leitão                   – Soldado, Pel Mort 2105
                                     Artur Augusto Maia Casal  – Fur Mil
                                     António Nunes de C. Pires  – Major de Art.ª CCS Bart 2857
                                     3.º Pel Art.ª 8,8 cm/Bac 1
                                     8.º Pel Art.ª 10,5cm/Bac 1


O Pel Caç Nat 65, ficou a fazer segurança aos obuses em Camajábá, e finda a operação seguimos para Buruntuma, para reforço à guarnição, aonde permanecemos cerca de mês e meio, com emboscadas nocturnas, e patrulhamentos.

Pel Caç Nat 65 em patrulhamento em Buruntuma
Pel Caç Nat 65 em patrulhamento em Buruntuma
Picagem Cherno, Zé Grande e Batista ……

Em 23 de Abril de 1970, o Pel Caç Nat. 65 iniciou o seu movimento BURUNTUMA-BAJOCUNDA.
 
 
E esta foi a minha última acçāo de combate em terras da Guiné.


Luís Manuel Nunes Guerreiro
Ex-Furriel Miliciano do 4.º Grupo de Combate da Cart 2410 e mais
tarde do Pelotão de Caçadores Nativos 65, Ganturé 1968 a 1970,
e desde 1971 residente em Montreal, no Canadá


Fotos e legendas: © Luis Guerreiro (2009). Direitos reservados.
Fotos e legendas: © Batalhão Artilharia 2857 (2010). Direitos reservados.
Fotos e legendas: © Carlos Nunes-Engenharia (2010). Direitos reservados.
«Uma fotografia é para mim, simultaneamente, o reconhecimento numa fracção de segundo não só da significação de um facto mas da organização rigorosa das formas apercebidas visualmente que exprimem esse facto»
HENRI CARTIER – BRESSON.

Publicado por Pereira da Costa, Administrador do Blogue do Bart 2857

1 comentário:

  1. Cheguei aqui por mero acaso, e atraído pela identificação do José Assunção Azevedo, do meu pelotão, e do Pel.Caç.Nat.65 que frequentemente colaborou com a minha Companhia, a C.Caç.2679. Depois, notei que a descrição da retaliação é subscrita pelo saudoso José Rocha, que ainda ontem reli numa peça sobre J. Hendrix, inserida num dos números de "O Jagudi", e em seguida deparei-me com a intervenção do Luís Guerreiro, cujo encontro esteve eminente durante a Primavera passada. Também já há uns anitos que não vejo o senhor administrador Pereira da Costa, que, tal como eu, partilhava uma cama na suite 3 em Piche.
    Pronto, foi uma agradável viagem ao passado, e espero que o futuro nos reserve surpresas mais agradáveis.
    Abraços fraternos
    JD

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